segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Os famosos pleonasmos



Quase todos os portugueses sofrem de pleonasmite, uma doença congénita
para a qual não se conhecem nem vacinas nem antibióticos. 

Não tem cura, mas também não mata. Mas, quando não é controlada, chateia (e
bastante) quem convive com o paciente. O sintoma desta doença é a
verbalização de pleonasmos (ou redundâncias) que, com o objectivo de
reforçar uma ideia, acabam por lhe conferir um sentido quase sempre
patético. Definição confusa? Aqui vão quatro exemplos óbvios “Subir
para cima”, “descer para baixo” , “entrar para dentro” e “sair para
fora”. Já se reconhece como paciente de pleonasmite? Ou ainda está em
fase de negação? Olhe que há muita gente que leva uma vida a
pleonasmar sem se aperceber que pleonasma a toda a hora. Vai dizer-me
que nunca está atento aos “pequenos detalhes”? E que nunca partiu uma
laranja em “metades iguais”? Ou que nunca deu os “sentidos pêsames” à
“viúva do falecido”? Atenção que o que estou a dizer não é apenas a
minha “opinião pessoal”. Baseio-me em “factos reais” para lhe dar este
“aviso prévio” de que esta “doença má” atinge “todos sem excepção”. O
contágio da pleonasmite ocorre em qualquer lado. Na rua, há lojas que
o aliciam com “ofertas gratuitas”. E agências de viagens que anunciam
férias em “cidades do mundo”. No local de trabalho, o seu chefe
pede-lhe um “acabamento final” naquele projecto. Tudo para evitar
“surpresas inesperadas” por parte do cliente. E quando tem uma
discussão mais acesa com a sua cara-metade, diga lá que às vezes não
tem vontade de “gritar alto”: “Cala a boca!”? O que vale é que depois
fazem as pazes e vão ao cinema ver aquele filme que “estreia pela
primeira vez” em Portugal. E se pensa que por estar fechado em casa
ficará a salvo da pleonasmite, tenho más notícias para si. Porque a
televisão é, de“certeza absoluta”, a “principal protagonista” da
propagação deste vírus. Logo à noite, experimente ligar o telejornal e
“verá com os seus próprios olhos” a pleonasmite em directo no pequeno
ecrã. Um jornalista vai dizer que a floresta “arde em chamas”. Um
treinador de futebol queixar-se-á dos “elos de ligação” entre a defesa
e o ataque. Um “governante” dirá que gere bem o “erário público”. Um
ministro anunciará o reforço das “relações bilaterais entre dois
países”. E um qualquer “político da nação” vai pedir um “consenso
geral” para sairmos juntos desta crise. E por falar em crise! Quer
apostar que a próxima manifestação vai juntar uma “multidão de
pessoas”? Ao contrário de outras doenças, a pleonasmite não causa
“dores desconfortáveis” nem “hemorragias de sangue”. E por isso
podemos “viver a vida” com um “sorriso nos lábios”. Porque alguém a
pleonasmar, está nas suas sete quintas. Ou, em termos mais técnicos,
no seu “habitat natural”. Mas como lhe disse no início, o descontrolo
da pleonasmite pode ser chato para os que o rodeiam e nocivo para a
sua reputação. Os outros podem vê-lo como um redundante que só diz
banalidades. Por isso, tente cortar aqui e ali um e outro pleonasmo.
Vai ver que não custa nada. E “já agora” siga o meu conselho: não
“adie para depois” e comece ainda hoje a “encarar de frente” a
pleonasmite! Ou então esqueça este texto. Porque, afinal de contas, eu
posso estar só “maluco da cabeça”!

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